CANÇÃO DAS MULHERES
Que o outro saiba quando estou com medo e me tome nos braços sem fazer perguntas demais. Que o outro note quando preciso de silêncio e não se vá embora batendo a porta, mas entenda que não o amarei menos se precisar ficar um pouco quieta. Que, se estou apenas cansada, o outro não pense logo que estou nervosa, ou doente, ou agressiva, nem diga que reclamo demais. Que o outro sinta quanto me dói a ideia da perda e ouse ficar comigo um pouco - em lugar de voltar logo à sua vida, não porque lá está a sua verdade, mas talvez por culpa ou acomodação. Que, se começo a chorar sem motivo depois de um dia daqueles, o outro não desconfie logo de que é culpa dele, ou que não o amo mais. Que, se estou numa fase má, o outro seja meu cúmplice, mas sem fazer alarde, nem dizendo: "olha que estou a ter muita paciência contigo". Que, se me entusiasmo por alguma coisa, o outro não a despreze nem me chame de ingénua, nem queira fechar essa porta necessária que se abre para mim, por mais tola que ...