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Mostrando postagens de setembro 5, 2008

DESALENTO

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Feliz daquele que no livro d'alma Não tem folhas escritas E nem saudade amarga, arrependida, Nem lágrimas malditas! Feliz daquele que de um anjo as tranças Não respirou sequer E nem bebeu eflúvios descorando Numa voz de mulher... E não sentiu-lhe a mão cheirosa e branca Perdida em seus cabelos, Nem resvalou do sonho deleitoso A reais pesadelos... Quem nunca te beijou, flor dos amores, Flor do meu coração, E não pediu frescor, febril e insano Da noite à viração! Ah! feliz quem dormiu no colo ardente Da huri dos amores, Que sôfrego bebeu o orvalho santo Das perfumadas flores... E pôde vê-la morta ou esquecida Dos longos beijos seus, Sem blasfemar das ilusões mais puras E sem rir-se de Deus! Mas, nesse doloroso sofrimento Do pobre peito meu, Sentir no coração que à dor da vida A esperança morreu!... Que me resta, meu Deus? Aos meus suspiros... Nem geme a viração... E dentro, no deserto do meu peito, Não dorme o coração! (Álvares de Azevedo