AMANHECER EM SAQUAREMA
Amanhece em Saquarema, estou envolta pelo inusitado do surgir e nesta névoa de silêncio que se desfaz em mim renasce uma angústia antiga: amanhecem o mar e o céu, únicos amantes do instante. Amanhece em Saquarema, em minhas mãos eu premedito o sol, artífice do tempo que lapida as horas fragmentando a manhã que cega e embriaga...
Sinto reconstituir-se em mim um passado antigo.
Amanhece em Saquarema, no céu, brancura de pássaros como pálpebras soltas na chuva, observando, ensinando, libertando.
E na plumagem dos sonhos, a tecedura da manhã chuvosa.
Vestígios da noite flutuam na gaza das ondas e as palavras que me disseram sobreviveram ao mar.
Ó, esta linguagem antiga que me persegue!
Quantas promessas desfeitas no alicerce das línguas?
Quantos homens traídos, quantas idéias?
Amanhece em Saquarema, o infinito conversa de terra e mar e eu descubro que já não sou que sou apenas a hipótese de mim.
E minha retórica são as lembranças, é a memória vaga que vaga na abstração da manhã.
Amanhece em Saquarema, estou sentada na calçada da pracinha e em sua laje deposito a minha memória fraturada, o meu desgosto, a minha lástima!
O sol me beija estilhaçando os sonhos e eu componho este poema sem vontade.
Escrevo-o com a vida!
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