ESTRADAS

Passei poetizando,
Contando o tempo, medindo horas,
Vendi saudade, negociei ilusões,
Intitulei-me poeta, vendedor dos sonhos,
Formei castelos de letras,
Pavimentei estradas com palavras, não fui á Lua,
Nem conversei com querubins,
Pus vírgulas nos vales e ponto nas corredeiras,
Desafiei os Céus, troquei de mal com as profundas,
Versejei nas montanhas, preguei no mar,
Naveguei nos desertos em fuga pelo Egipto, o que preguei não edito,
E tudo ficou o dito pelo não dito, recuperei o fôlego e refiz o caminho de volta para mais uma vez bater em tua porta,
Com mais anos e passos, ficados no descompasso das caminhadas,
Pedindo da tua água, cheirando tua comida, com o peito lavrado e os pés em ferida,
Para mais uma vez ouvir tua voz descortês,
Teu hálito de chama, implorando teu lençol, querendo tua cama.
Voltei como quem nunca saiu, mas se confundiu,
Voltei como o pensamento que vagueia e gira distante, como o amante guerreiro que esqueceu a espada, só para sentir seu desafago indiferente, para sentir o teu explodir interior,
Voltei com o cheiro da maresia que vem do mundo, imundo, como quem volta do bordel, cheirando a bebida, como que vem da ressaca dos bares das marés,
Vim das galés para mergulhar em teus cabelos, beijar teu peito em noite linda, como colibri em flores,
Voltei como saí um dia para rever teus olhos e te chamar : -"Poesia!"




Sérgio Souza

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